De onde vem a riqueza de um povo? (por Eduardo Fernandez Silva)

Do petróleo a ser extraído, queimado e tornado arma de destruição em massa? Dos demais minérios? Da agricultura, dos serviços ou da indústria? Quem quer que escolha qualquer dessas alternativas incorrerá em erro. A exploração de todos esses produtos ou setores pode avançar de vento em popa e a população continuar pobre, paupérrima. Exemplos não faltam: a grande maioria dos moradores do estado do Rio de Janeiro, entre outros estados e países.

De onde vem a riqueza de um povo? (por Eduardo Fernandez Silva)

Daron Acemoglu, ganhador do prêmio Nobel de Economia, publicou em 2012 “Por que as nações fracassam”, livro no qual busca responder à pergunta que intitula este artigo. Entre outras teorias, aborda a dita maldição dos recursos naturais, segundo a qual a superabundância destes, pelas facilidades geradas, acaba por comprometer a qualidade de vida da população. Exemplos disso são amplos, como no Congo e grande parte da Ásia, África e América Latina. Mas há também exemplos inversos, o que fragiliza a tese da “maldição”. O que torna um povo rico, Acemoglu concluía, é a forma como se organiza.

Aqui no Brasil, a estrutura predatória, injusta e exploradora implantada pelas elites portuguesas permanece largamente mantida até hoje. Daí que toda a riqueza gerada pela cana de açúcar, pelo ouro, pela carne, soja e petróleo, não foi suficiente para acabar com a pobreza da maioria da população. Melhor dizendo, sim teria sido suficiente, caso os ganhos proporcionados pelo dinamismo daquelas atividades, durante séculos, fossem apropriados de maneira diferente.

Sem mudanças profundas na maneira como se organiza a economia e o estado no Brasil de hoje a maioria continuará pobre, paupérrima, mesmo extraindo-se muitas vezes mais petróleo do que temos extraído! E, extraindo-o, condenaremos as gerações mais novas e as futuras devido ao efeito “bomba de destruição em massa” da sua queima. Essa constatação – que aqueles poucos que esperam lucrar com a extração negarão! – é razão adicional para vetar a exploração de mais petróleo, onde quer que seja!

Sobre estrutura social a ser mudada é exemplo recente a Indonésia, país que, como o Brasil, mente dizendo produzir petróleo. Lá, estão ocorrendo revoltas contra, ao mesmo tempo, os baixos salários da população e os altos salários e vantagens de parlamentares e magistrados. Violentas, com incêndios, prisões, mortes e saques a residências de políticos tidos como insensíveis às dificuldades da população. Também a casa da ministra da fazenda foi saqueada; não, ela não disse que domésticas tinham de parar de ir à Miami, mas afirmou que os professores são um “fardo”.

Não convém, estou seguro, que os brasileiros ajam da mesma maneira: violência gera violência. É necessário e urgente, porém, encontrar outros caminhos para, com ações pacíficas e eficazes, alterar a organização extrativista da sociedade brasileira. Nesse sentido, o que propõem os candidatos a cargos nas próximas eleições, e o que devemos exigir deles?

 

Eduardo Fernandez Silva. Ex-Diretor da Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados

Fonte: Matéria original

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