
Folclore Nacional: conheça a história da criação do Dia do Saci Pererê
Em outubro é comum encontrar diversos artigos decorativos de fantasmas, vampiros, bruxas e fantasias de personagens assustadores. O mês marca a comemoração do Halloween, feriado que nasceu na Irlanda e se tornou tradicional nos Estados Unidos. Esse costume se espalhou para diversos países do mundo e o Brasil não ficou de fora.
Mas você já ouviu falar sobre um personagem negro, com apenas uma perna e que está sempre usando um gorro vermelho? Isso mesmo, o Saci! O Dia do Saci, um dos personagens mais conhecidos do folclore brasileiro, também é celebrado no dia 31 de outubro no Brasil. A data foi instituída por lei.
E em São Luiz do Paraitinga, cidade no interior de São Paulo, manter vivo o folclore em torno do Saci é uma missão que une moradores há pelo menos 23 anos. O local tem uma associação voltada para o Saci, faz bloquinhos, pratos típicos, pedal em uma perna só e tem até ‘saciólogos’ – pessoas especialistas no Saci – para não deixar esse ícone do folclore brasileiro cair no esquecimento.
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O Saci é um personagem que ficou famoso por ser travesso e pregar peças. Entusiastas da cultura popular sugeriram que fosse criado esse dia para chamar a atenção para o resgate de lendas brasileiras e para que se tornasse uma comemoração das tradições do país.
Imagem com representação do Saci Pererê, personagem do folclore brasileiro.
Joédson Alves/Agência Brasil
A iniciativa partiu de moradores da cidade de São Luiz do Paraitinga, município que já é conhecido por tradições culturais, principalmente o carnaval de marchinhas, onde também existe um bloco que homenageia o personagem.
Em São Luiz do Paratinga, o folclore tem uma força e relevância muito grande, as festas culturais estão presentes nas vidas das famílias luizenses e são passadas de geração para geração. O historiador João Rafael Cursino explica que a comunidade realizar essas festas ajuda na propagação do folclore.
“A cidade é muito conhecida pelas festas populares, onde sempre elas são feitas pela comunidade, e isso traz esse arcabouço, esse pano de fundo para que você tenha um terreno propício à proliferação mesmo desse folclore ainda nos tempos atuais. São Luiz é uma cidade que tem na oralidade, na transmissão de geração para geração o conhecimento, e sempre o folclore, as lendas, vêm com uma força muito grande”, contou.
O historiador afirma que a tradição do carnaval e seus blocos são responsáveis por essa inserção em todas as gerações.
“Um grande exemplo que a gente tem aqui em São Luiz é o Encuca a Cuca, que é um bloco carnavalesco, mas que cada ano ele lança um boneco com uma lenda diferente e isso vai deixando esse terreno mais fértil para todo tipo de manifestação cultural”, afirmou.
Montagem com Saci e elementos do Halloween.
reprodução
João Rafael também contou como o personagem Saci está presente na cultura brasileira e como se tornou uma figura tão especial para os moradores de São Luiz do Paraitinga.
“O Saci, ele é uma figura genuína brasileira, no decorrer do tempo ele já foi utilizado de várias formas, em alguns momentos inclusive de forma negativa, mas hoje é muito valorizado, e ele foi uma iniciativa de um grupo que não era luizense, sobretudo da cidade de São Paulo, com a Dona Alice, que era uma paulistana que morava aqui, tinha um restaurante na época, mas a cidade adorou a ideia, a comunidade tem o maior orgulho hoje de ter essa festa”, narrou.
Dona Alice, citada por João Rafael, é uma das personagens principais na criação da Sociedade de Observadores de Saci de São Luiz do Paraitinga, a SOSACI, que nasceu de nos anos 2000.
A associação foi criada por um grupo de amigos, professores, jornalistas, escritores e cartunistas de São Paulo. Esses amigos conheceram, por meio da Alice, os encantos da cidade e viram nela uma maneira de manter a cultura brasileira viva, como conta Régis de Toledo Souza, presidente da SOSACI.
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Arte do desenhista José Luiz Nogueira Ohi
O objetivo da Sociedade de Observadores de Saci é levar a pauta do Saci e seus amigos para aqueles que não têm muito conhecimento e, principalmente, apresentar a mitologia brasileira para as novas gerações.
“São Luiz, com as suas características, pode potencializar e resgatar a cultura nacional através dos seus mitos. Com a associação, discutimos a necessidade da sociedade brasileira reconhecer os seus mitos, reconhecer sua cultura, reconhecer sua gente”, alegou Régis.
A Festa do Saci é uma comemoração com uma programação que se estende por vários dias e conta com diversas atrações, como shows musicais, brincadeiras, culinária e a Saciata ou o passeio Saciclístico, onde as pessoas saem pedalando com uma perna só.
Este ano, a festa teve início no final de semana do dia 24 de outubro e vai terminar no final de semana do dia 1º de novembro, sendo dois finais de semana de festa. A ideia é propagar a diversidade artística, musical e teatral, potencializar os artistas luisenses e, é claro, manter viva a cultura do Saci e seus amigos.
Festa do Saci em São Luiz do Paraitinga
Foto: Arquivos Sosaci
O presidente da SOSACI reforçou que deixar esses personagens caírem no esquecimento é deixar a natureza cair no esquecimento, assim como nossas origens.
“Para nós, o Saci e seus amigos simbolizam a luta pela preservação do meio ambiente, das nossas florestas, da nossa culinária, da culinária caipira, das nossas ancestralidades, das diversas ancestralidades que compõem o caráter da sociedade brasileira, indígena, dos povos originários, a africana, a própria europeia, oriental. Elas representam uma ancestralidade mítica brasileira que vai se construindo aí nas nossas histórias da sociedade brasileira, da cultura brasileira”, apontou.
O intuito do dia do Saci ser celebrado no mesmo dia em que é comemorado o Halloween é uma maneira de contrapor uma outra expressão cultural que foge das raízes brasileiras e ajudar a fomentar a cultura popular nacional, para valorizar os personagens e o folclore do Brasil, segundo o saciólogo.
“A escolha da data ela não é aleatória, ela é uma escolha justamente para que nós possamos estabelecer um contraponto com outra expressão cultural que tem o seu valor, mas que é distante da nossa realidade. Há a necessidade de um reconhecimento da cultura brasileira, e isso não significa negarmos a existência de outras expressões culturais, mas sim de valorizarmos a nossa cultura”, destacou.
“O saci é um elemento mítico, tem as histórias referentes ao saci, são histórias de liberdade, de escravidão, de aprisionamento, de luta, de rodopio, de se transformar num outro ser. Então, você tem histórias de resistência, entende? Você tem histórias de preservação do ambiente, pega o curupira, a cuca, a mula … Todos esses personagens se constituem a partir das nossas histórias e das regiões do nosso país. Por isso o dia 31 tem um peso muito grande”, completou.
“Então, no dia 31 de outubro, aqui em São Luiz, a gente não cultua mitos mundiais, da mídia, e sim a figura genuína do brasileiro, do Saci, do Halloween caipira, como a gente gosta de fazer por aqui. Hoje você tem um movimento interessante, além da festividade que é realizada, que são os próprios restaurantes da cidade, com pratos com abóbora, carne seca, valorizando sempre o que é nacional”, finalizou.
*Estagiária Mirela Melo colaborou sob supervisão do g1.
Festa do Saci em São Luiz do Paraitinga
Arquivo Sosaci
Festa do Saci em São Luiz do Paraitinga.
Divulgação/Bem Bolado
Imagem de arquivo – Folião fantasiado de Saci Pererê
Leo Caldas/Titular Fotografia
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Fonte: Matéria original