O secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Márcio Elias Rosa, afirmou que as negociações em torno do tarifaço com os Estados Unidos não avançam por causa da ausência de propostas concretas por parte do governo norte-americano.
Durante participação em evento realizado pela Esfera nesta segunda-feira, 25, ele disse que os encontros têm ocorrido de forma cordial, mas sem resultados. “Do lado de lá não vem uma contraproposta, infelizmente, não vem”, declarou.
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Segundo o secretário, a posição norte-americana representa um movimento político e geopolítico, não apenas econômico. Ele destacou que o governo do presidente Donald Trump adota uma política mercantilista, em contraste com o multilateralismo que marcou as relações internacionais desde a década de 1940. “O que o presidente Trump faz é uma aposta no mercantilismo, que é o jogo direto entre as nações”, disse.
Rosa explicou que as tarifas anunciadas não se justificam sob o ponto de vista comercial, já que o Brasil figura entre os países que garantem superávit para os norte-americanos. “O Brasil é o sétimo maior superávit comercial dos EUA”, afirmou. “A balança comercial, no final, fecha positivo para eles, então não havia razão para estabelecer sequer aquela primeira ordem executiva dos 10%.”
O secretário avaliou que a imposição das tarifas faz parte de uma política protecionista para tentar trazer de volta a manufatura aos EUA. Ele mencionou o risco de aumento de custos e perda de competitividade. “Há quem diga que o custo do iPhone montado na China é 60 vezes menos do que o iPhone que seria montado nos EUA”, exemplificou.
Tarifaço e impactos na política norte-americana
Outro ponto citado foi o distanciamento do governo norte-americano em relação às universidades e institutos de pesquisa, considerados fundamentais para a liderança tecnológica do país. “Se os institutos de pesquisa norte-americanos deixarem de ser o que eles são e foram, e passarem a produzir para fora e não para dentro, os EUA também ficam com um gap em relação à China, em relação à Índia”, disse.
Rosa observou que em outros casos as negociações também resultaram em dificuldades, como com a Índia e a Indonésia. No caso brasileiro, as tratativas começaram em 2 de abril, conduzidas principalmente pelo vice-presidente Geraldo Alckmin. Os diálogos ocorrem com o secretário de Comércio, Howard Lutnick, e com o embaixador Jamieson Greer, do Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR). “Elas têm ocorrido de maneira bastante cordata, mas pouco produtiva”, afirmou.
Perguntado sobre eventuais impactos do tarifaço já sentidos pelas empresas brasileiras, o secretário disse que há cancelamentos de contratos em setores como pescados e frutas, mas sem números consolidados. Ele citou a preocupação da Embraer com custos de exportação e importação, mas explicou que até o momento não há registros oficiais de cobranças específicas no ministério. “Tem a notícia de cancelamento de contratos, alguns (…) mas não há especificamente nenhum apontamento dizendo qual o custo”, afirmou.

Ele também chamou atenção para a falta de transparência em acordos anunciados pelos EUA com outros parceiros. “Todos os acordos foram anunciados, mas os documentos não foram produzidos ainda, ou, se foram produzidos, não foram divulgados”, declarou. No caso da União Europeia, por exemplo, ainda não foram conhecidos os termos finais, especialmente em áreas como agricultura e propriedade intelectual.
A última reunião com o secretário norte-americano de Comércio ocorreu há dez dias. O secretário brasileiro reforçou que o governo não vê espaço para uso político-eleitoral do tema no Brasil. “É evidente que não se pode fazer política eleitoral com esse tema, porque esse tema é ruim, do início ao fim”, afirmou. “Ninguém vai ganhar. Todos perdemos.”
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