Encontro entre prefeito e ex-prefeito termina em confronto. Uso político de conselhos e suspeitas sobre interesses ocultos colocam Ilhabela no centro de mais uma crise institucional.
Editorial – Por: Ricardo Severino
O que parecia ser apenas uma votação para a composição do Conselho Municipal de Habitação de Ilhabela, se transformou, nesta terça-feira (28), em mais um episódio lamentável da política local — com direito a gritaria, confusão, suposta tentativa de agressão e um vídeo que repercutiu em redes sociais e grupos de WhatsApp.
A eleição, que ocorreu no Centro de Informações Turísticas (CIT), das 10h às 18h, teve a participação de duas chapas representando a sociedade civil: a Associação Comercial de Ilhabela e a ALT – Associação dos Locadores por Temporada. Tudo transcorria normalmente, até que, ao final do dia, a situação saiu do controle.
Segundo relatos, o ex-prefeito Manoel Marcos compareceu ao local e aguardava a apuração dos votos. Pouco depois, o atual prefeito, Toninho Colucci, teria entrado no recinto exigindo que a votação se estendesse, alegando que havia pessoas saindo do trabalho para votar. Ainda de acordo com testemunhas, o prefeito teria se exaltado com uma funcionária que já encerrava a votação, o que gerou um confronto verbal com o ex-prefeito, culminando em bate-boca e tensão, como mostra o vídeo gravado no local.
A Associação Comercial venceu a disputa. Mas a pergunta que fica é: por que tanto interesse em um conselho municipal?
O que está em jogo?
O Conselho de Habitação é responsável por deliberar, fiscalizar e acompanhar políticas públicas relacionadas ao uso do solo, moradia, aprovação de projetos e regularização fundiária. Em uma cidade marcada por denúncias de ocupações irregulares, loteamentos clandestinos e crescimento urbano desordenado — como noticiado em matéria recente em nosso portal sobre invasões em área de proteção ambiental — o controle desse conselho se torna estratégico para interesses diversos.
O Tribunal de Contas do Estado e o Ministério Público já fizeram apontamentos sobre a ocupação urbana de Ilhabela. Portanto, ter aliados no conselho significa poder influenciar direta ou indiretamente decisões que impactam o mercado imobiliário, o meio ambiente e a vida de milhares de moradores.
Agressão verbal e acusações
Ouvidos pela reportagem, ambos os lados confirmam o desentendimento. O ex-prefeito Manoel Marcos afirmou:
“Tentativa de intimidação, tentativa de agressão, calúnias, difamação, ofensa à minha capacidade profissional, minha honra, minha moral e minha dignidade… Ele tentou me agredir, só não conseguiu porque foi contido pelo próprio filho.”
Ele ainda acusou o atual prefeito de manter um governo “corrupto, perseguidor e superfaturador”, citando condenações judiciais e obras de baixa qualidade.
O prefeito Toninho Colucci, por sua vez, respondeu em dois áudios enviados à nossa redação. Em um deles, atacou diretamente o ex-prefeito:
“Tive uma discussão com o ex-prefeito condenado pela justiça por corrupção… que tem a coragem de levantar suspeitas contra mim… esse safado pra falar de mim tem que lavar a boca com água sanitária.”
E sobre a suposta interferência na eleição:
“Isso é choro de perdedor. Estão tentando criar um terceiro turno aqui em Ilhabela. Têm que olhar o resultado das urnas e ir chorar no travesseiro. Esse ex-prefeito só atrapalha.”
A ALT se posiciona
A Associação dos Locadores por Temporada (ALT), que também participou da eleição, emitiu nota oficial afirmando que não organizou nem financiou nenhuma mobilização política, e que repudia o uso de seu nome em mensagens com cunho partidário. A entidade reafirmou seu compromisso com a lisura do processo e negou qualquer alinhamento com Colucci ou Manoel Marcos.
O que a população ganha com isso?
Nada.
O episódio envergonha a cidade e fragiliza ainda mais a confiança da população na política local. Conselhos municipais devem ser espaços de participação, e não arenas de poder. O que vimos foi o uso político de uma estrutura que deveria servir à sociedade — não aos interesses de grupos específicos.
É urgente que as autoridades tomem providências, apurem a conduta de todos os envolvidos e impeçam que esses episódios se tornem corriqueiros. Se hoje é o Conselho de Habitação, amanhã poderá ser o da Educação, da Saúde ou do Meio Ambiente.
Ilhabela precisa de gestão — não de espetáculo.
Por: Ricardo Severino