Embarcação usada para evento político navega fora da área permitida e sem passageiros. Com tarifa abusiva, sistema opera com prejuízo e sem fiscalização.

Nos últimos dias, o uso do Aquabus — embarcação pública que deveria servir ao transporte coletivo — escancarou mais um capítulo do descaso com o dinheiro público em Ilhabela. Para participar de uma inauguração na comunidade da Figueira, o prefeito, secretários e vereadores usaram o Aquabus como transporte institucional, conforme imagens divulgadas pela própria Prefeitura em suas redes sociais.
O problema? A embarcação só pode operar em áreas abrigadas, como canais e baías, segundo classificação da Marinha do Brasil. O trajeto realizado envolve águas abertas, o que, de acordo com a NORMAM-211/DPC, configura uso irregular da embarcação.

O uso foi legal? E quem pagou?
Segundo documentos oficiais, o Aquabus é operado por uma empresa que recebe por passageiro transportado, com parte do valor subsidiado pela própria Prefeitura. Ou seja: se não há passageiros, mas há operação, há desperdício de verba pública.
A pergunta é: quem pagou por essa viagem? Se a embarcação foi usada para transportar autoridades, sem usuários comuns e fora de sua finalidade, estamos diante de um uso indevido de um serviço subsidiado com dinheiro do contribuinte.
Além disso, é legítimo o prefeito e sua equipe utilizarem um transporte público — financiado com recursos da população — como se fosse veículo oficial de comitiva?
Uma crise que só vale no papel
Vale lembrar que Ilhabela decretou calamidade financeira em 2025, através do Decreto nº 11.253, que prevê corte de 30% nos gastos com royalties do petróleo. A cidade enfrenta dificuldades financeiras declaradas. Mas isso não parece valer quando se trata de deslocamentos políticos ou conveniências do Executivo.

Tarifa altíssima, adesão mínima
Desde que a tarifa do Aquabus foi reajustada de R$ 5 para R$ 50, o serviço praticamente se esvaziou. Tivemos acesso às planilhas de operação da embarcação e o que elas mostram é alarmante: diversas viagens são realizadas com zero passageiros. Outras tantas, com um ou dois. Um prejuízo constante.
O sistema, que deveria ser alternativa viável de transporte, se tornou inviável para a população e ineficaz para o município. Com gastos operacionais altos, baixa adesão e uso político indevido, o Aquabus virou símbolo do colapso na gestão pública.

Silêncio e omissão
Buscamos posicionamento da Capitania dos Portos, da empresa Vilhena, responsável pela operação, e da própria Prefeitura de Ilhabela. Nenhuma resposta. Nenhuma justificativa. Nenhuma transparência.
Enquanto isso, na última sexta-feira, a empresa que geria a bilhetagem do serviço foi dispensada, e agora os próprios tripulantes passaram a ser responsáveis pela cobrança de passagens. Mais um passo rumo à desorganização.
A quem serve esse sistema?
Não é exagero dizer que hoje, o Aquabus não serve ao povo — serve ao poder. Serve à conveniência. Serve à autopromoção. Serve como símbolo de um modelo que prioriza a imagem e despreza a eficiência, a legalidade e o respeito com quem paga a conta: o contribuinte.
E a Justiça? E a Câmara de Vereadores? Até quando o silêncio será a resposta padrão? O que está acontecendo em Ilhabela precisa ser investigado, apurado e, se for o caso, punido.
Chega de omissão.
Por: Ricardo Severino