Governo de SP conclui primeira etapa da recuperação florestal em São Sebastião

Cicatrizes nas encostas na Vila Sahy receberam plantio de espécies da Mata Atlântica feitos com técnica inovadora

Governo de SP conclui primeira etapa da recuperação florestal em São Sebastião
A nova vegetação fixa a camada superficial do solo

Menos de um ano depois das mais intensas chuvas concentradas em um único local já registradas no Brasil, em fevereiro de 2023, a primeira etapa da recuperação ambiental das cicatrizes na Serra do Mar no Litoral Norte de São Paulo foi concluída com sucesso pela Secretaria do Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil), por meio da Fundação Florestal (FF).

A ação para estabilizar as marcas de deslizamentos nas encostas no município de São Sebastião foi iniciada em novembro e recuperou 2,1 hectares com o plantio de espécies leguminosas e arbustivas utilizando uma técnica moderna e totalmente sustentável, a hidrossemeadura. Ao todo, foram investidos R$ 908 mil somente nas três áreas da Vila Sahy, em São Sebastião, que foram fortemente atingidas pelos temporais e deixaram 65 mortos.

Em algumas áreas, entre elas a região da própria Vila Sahy, o plantio começa a devolver parte da antiga aparência ao local. A nova vegetação fixa a camada superficial do solo – em uma região com baixa coesão e alta declividade – e controla a infiltração de água da chuva, estabilizando e minimizando riscos de novas tragédias. A hidrossemeadura – técnica que envolve plantio com material gelatinoso, biorretentores e biomanta – facilitou o enraizamento dos vegetais e a sua consequente fixação ao terreno.

“Essa é uma medida de grande importância, por representar uma solução duradoura e sustentável em uma região sensível a eventos climáticos extremos como o que aconteceu em 2023”, afirma a secretária Natália Resende. “Buscamos realizar as intervenções no litoral norte com técnicas que aumentem a resiliência desses municípios, historicamente sujeitos a chuvas fortes”, acrescenta.

A escolha das leguminosas deve-se ao crescimento mais acelerado, com ciclo de vida médio de seis meses, o suficiente para estabilizar a camada superficial do solo e torná-lo mais propício para o surgimento de vegetação mais robusta. Além disso, o primeiro ciclo de plantio forma substrato para as espécies arbustivas e para a posterior recomposição da floresta dentro de um ciclo ajustado às condições locais.

“É a indução de um processo de restauração natural e a minimização do impacto das chuvas que estão por vir, uma medida de mitigação dentro de um processo maior”, resume o diretor executivo da Fundação Florestal, Rodrigo Levkovicz.

O gestor também destaca a participação ativa da comunidade da Vila Sahy. “Desde o início do projeto eles trouxeram uma opinião sobre outro espectro que não tínhamos parado pra pensar: o de cura mesmo, de olhar aquelas cicatrizes e ver que aquilo estava sendo recomposto e a vegetação estava voltando”, prossegue o diretor da fundação. “Isso trazia uma sensação de ajuda dentro de um processo de cura para essas pessoas, que perderam vários entes queridos e bens, de um dia ver que aquela fissura, aquele morro desmoronado, estava também sendo restaurado”, completa.

Técnica inovador
Esta é a primeira vez que a hidrossemeadura, utilizada principalmente para estabilização de encostas, foi empregada pela FF. A técnica tem duas funções primordiais: deixar o solo menos exposto para mitigar os impactos da chuva e facilitar a germinação, o que ajuda a estabilizar o solo e evita o carreamento de lama para a própria Vila Sahy, iniciando o processo de restauração florestal dessas áreas.

A Fundação Florestal fez estudos para adaptar a técnica de hidrossemeadura às condições naturais do Parque do Estado da Serra do Mar. Por exemplo: foi selecionado um mix de sementes nativas da Mata Atlântica, plantadas em gelatina e dispostas em um material de fibra de coco, que adere ao solo, absorve água e também funciona como substrato. Posteriormente, as mudas foram protegidas por uma tela de polipropileno fotodegradável, ou seja, que se desintegra a partir da ação do sol.

Nas áreas de maior declive, foram utilizadas biomantas de fibra de coco, material que ajuda a conter a umidade e o deslocamento de solo. As fibras naturais também são utilizadas em bioreintretores, estruturas semelhantes a ‘macarrões’ de piscina, que são instalados perpendicularmente e ajudam a reduzir a velocidade da água. Em encostas com alta inclinação, esse é um ponto essencial para reduzir o potencial destrutivo de um eventual deslizamento.

Entre as espécies escolhidas estão as crotalárias, que servem como adubo orgânico; aveia preta; milheto; nabo forrageiro; estilosantes; campo grande; guandu forrageiro; mucuna cinza; girassol; angará; fedegoso e corda de viola. Foram evitadas espécies arbóreas a fim de anular o ‘efeito catapulta’, que ocorre quando fortes ventos atingem árvores plantadas em solo instável e ampliam a impulsão em sua queda.

Outras ações
O plantio por hidrossemeadura é uma parte do processo de reconstrução sustentável da área atingida pelo fenômeno climático extremo. As ações, coordenadas pelo Governo de São Paulo, incluíram obras em diversas localidades do Litoral Norte, como drenagem, muros de contenção com canaletas de escoamento, escada hidráulica, recuperação de taludes, recuperação das rodovias Rio-Santos e Mogi-Bertioga, além da construção de mais de 700 moradias para realocar as comunidades atingidas pela tragédia.

Ainda no campo da recuperação ecológica, devem ser lançadas por drone biocásulas com sementes nativas para ajudar a recompor 208 hectares no Parque Estadual Serra do Mar. O projeto é uma parceria entre Fundação Florestal, Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), Instituto de Conservação Costeira (ICC) e Concessionária Tamoios.

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