
Pela terceira vez consecutiva, os militares terão um candidato a presidente da República para chamar de seu. Em 2018 e em 2022 foi Bolsonaro, agora à beira da sepultura. Em 2026 será Tarcísio de Freitas. Bolsonaro, ex-capitão. Tarcísio, ex-capitão e engenheiro militar. Ambos afinados com os valores e os planos da caserna.
Uma vez eleito presidente, os chefes militares pensaram que seria moleza controlar Bolsonaro. Ocuparam todos os cargos oferecidos por ele e mais alguns que pediram. Descobriram mais tarde que seu filhote era relativamente incontrolável. Foi Bolsonaro que os controlou, atraindo-os depois para uma aventura golpista.
Havia um componente de mágoa no caso de Bolsonaro que não há no caso de Tarcísio. Bolsonaro acabou afastado do Exército por mau comportamento. Planejou detonar bombas em quartéis e em pontos chaves do Rio de Janeiro porque ganhava pouco. Em troca da patente de capitão, passou à reserva e ingressou na política.
Tarcísio concluiu em 1996 o bacharelado em Ciências Militares pela Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), em Resende, no Rio. Seis anos depois, formou-se engenheiro civil pelo Instituto Militar de Engenharia (IME), no Rio. Em 2008, deixou o serviço militar e entrou para o funcionalismo público federal.
Bolsonaro foi um político vencedor. Disputou e venceu nove eleições seguidas – uma para vereador, sete para deputado federal, e uma para presidente. Ao tentar vencer a décima, elegendo-se presidente de novo, perdeu para Lula. Se tivesse aguentado o tranco, seria o nome da direita para a eleição do próximo ano.
Virou golpista por sua culpa, sua máxima e exclusiva culpa. Mas antes fez de Tarcísio ministro da Infraestrutura e, em 2022, candidato ao governo de São Paulo para que o ajudasse a se reeleger. Bolsonaro demonstrou faro apurado. Tarcísio, que nunca disputou uma eleição, surpreendeu-se com a própria vitória.
É coisa rara na história de São Paulo alguém de fora se eleger governador. Tarcísio é carioca. Teve que trocar às pressas seu domicílio eleitoral para concorrer ao cargo de governador. É coisa rara um governador de São Paulo eleger-se presidente. De 1930 para cá, só um se elegeu: Jânio Quadros.
Embora pressionado por políticos, empresários, mercado financeiro e a maior parte da mídia a se declarar desde já candidato a presidente em 2026, Tarcísio conseguiu embromá-los com a conversa de que ainda não desistiu de tentar se reeleger, e de que o dono do seu destino é Bolsonaro. Acontece que Lula…
Pois é: por esperteza ou convicção, Lula decidiu tirar Tarcísio da sua zona de conforto. E ontem, pela primeira vez publicamente, aproveitou uma reunião com 38 dos seus ministros para anunciar que seu adversário será Tarcísio. Tocou fogo na direita que dispõe de outros nomes. Irritou Bolsonaro e a extrema-direita.
Nada, porém, que muito dinheiro e a promessa de repartição futura do Poder não possa resolver, apaziguando os ânimos de Bolsonaro e dos seus dependentes. Afinal, Bolsonaro já era.
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