O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disse nesta segunda-feira (18/8) que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve insistir no diálogo com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para tratar sobre o tarifaço imposto pelo líder norte-americano sobre os produtos brasileiros. Sem mencionar Lula, Tarcísio defendeu que conversar com Trump “não é humilhação” e citou o presidente da Rússia, Vladimir Putin, que se encontrou com Trump no Alasca no fim de semana.

“Acho que não é humilhação para nenhum chefe de Estado, a gente viu agora no Alasca, Putin e o presidente dos Estados Unidos”, disse Tarcísio. “É fundamental que se consiga estabelecer um canal de diálogo, que haja insistência. Estamos falando das duas maiores democracias da América”, acrescentou o governador.

A fala ocorreu em painel promovido pela empresa Warren Investimentos. Para Tarcísio, é preciso entender a forma como Trump negocia. Segundo o governador, o presidente dos Estados Unidos gosta de mostrar a imagem de quem está vencendo. O Brasil, diz Tarcísio, pode fazer acenos com objetivo de mitigar a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, que entrou em vigor neste mês.

“Por que não entregar alguma vitória para ele? Por que não fazer algum gesto? Quantas empresas brasileiras investem nos Estados Unidos? Se a gente somar isso, quanto é que a gente está falando de investimentos nos próximos anos?”, questionou.

Na semana passada, o secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, cancelou uma reunião virtual com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT). O petista culpou o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que teria conversado com auxiliares de Trump para cancelar o encontro.

Tarcísio e o mercado financeiro

Tarcísio tem intensificado a agenda com o mercado financeiro. Na semana passada, o governador se reuniu com representantes do mercado financeiro em dois encontros na agenda oficial e teve ao menos uma reunião fora da agenda – um almoço organizado pelo executivo do Bank of America, Alexandre Bettamio, em sua casa na Fazenda da Boa Vista, em Porto Feliz, a 107 quilômetros da capital paulista.

Sob reserva, aliados afirmam que a intensificação das agendas visam buscar investimentos para Parcerias Público-Privadas (PPPs), uma das principais bandeiras da gestão Tarcísio. Os encontros se intensificaram após a taxa de 50% sobre produtos brasileiros, aplicada pelo governo dos Estados Unidos desde o último dia 6/8, o que resultou, segundo um secretário, em uma “retração dos investidores”.

Outro secretário afirmou que as reuniões fechadas com integrantes do setor financeiro não têm caráter político e fazem parte da estratégia para atração de investimentos para as PPPs. Por outro lado, integrantes do mercado financeiro dizem que os encontros têm sim um componente político. E os banqueiros, em especial dos Estados Unidos, de conhecer um dos principais presidenciáveis.

Bolsonaristas “raiz” também têm visto um tom eleitoral nas agendas de Tarcísio, o que tem incomodado aliados próximos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Prova disso é a indireta publicada no Twitter pelo vereador do Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro (PL), e republicada por Eduardo Bolsonaro.

A cerca de duas semanas do julgamento de Jair Bolsonaro, sem citar nomes, o filho do ex-presidente chamou os governadores de oportunistas e disse que eles se comportavam como ratos.

– Tentei, até agora, ser a pessoa mais paciente possível diante desses chamados “governadores democráticos”. Mas os fatos, todos os dias, me provam que não há como levar nenhum desses sujeitos a sério.

– Enquanto Jair Bolsonaro está preso, doente e sendo lentamente assassinado a…

— Carlos Bolsonaro (@CarlosBolsonaro) August 17, 2025