Descoberta inédita do Projeto Tamar comprova rota migratória e reforça importância da conservação marinha entre áreas de alimentação e reprodução.

Uma Jornada de Duas Décadas
Uma tartaruga-verde (Chelonia mydas), que recebeu marcas de identificação do Projeto Tamar em Ubatuba, no Litoral Norte paulista, em janeiro de 2001, protagonizou um reencontro emocionante em maio de 2025. O animal foi localizado desovando na Praia da Quixabinha, no Arquipélago de Fernando de Noronha (PE), a milhares de quilômetros de distância.
Quando marcada há 24 anos, após ser capturada acidentalmente por pescadores na Praia do Camburi (Ubatuba), a tartaruga era ainda jovem, com 49 cm de carapaça e 13 kg. Ao ser reencontrada em Noronha, apresentava 103 cm de carapaça, mais que o dobro do tamanho, indicando ter atingido a maturidade sexual – um processo que pode levar cerca de 30 anos na espécie.
Comprovação Científica Inédita

Este é o primeiro registro documentado pelo Projeto Tamar de um indivíduo marcado jovem em sua área de alimentação (como Ubatuba) sendo posteriormente identificado em uma área de reprodução (como Fernando de Noronha). A descoberta fornece uma prova concreta das extensas rotas migratórias percorridas pelas tartarugas-verdes no Atlântico Sul.
“Este reencontro é extremamente recompensador e gratificante para todas as equipes de campo do Tamar”, celebrou Henrique Becker, coordenador da base de Ubatuba, que pessoalmente marcou o animal em 2001. Ele ressaltou a durabilidade das marcas metálicas de aço-inox, que permaneceram legíveis após quase um quarto de século no mar.
Conectando Pontos de Conservação
Estudos genéticos realizados na década de 1990 já sugeriam que as tartarugas-verdes juvenis encontradas em Ubatuba poderiam ter origem em diversas áreas de desova, incluindo ilhas oceânicas como Ascension, Atol das Rocas e Trindade, além de locais no Caribe. O reencontro da tartaruga marcada confirma a conexão vital entre as áreas de alimentação no litoral brasileiro e as distantes praias de nidificação.
O Projeto Tamar, que atua desde 1991 na região de Ubatuba, já marcou e devolveu ao mar mais de 12 mil tartarugas, contribuindo significativamente para o conhecimento e a proteção destes animais ameaçados. A identificação desta tartaruga em Noronha reforça a necessidade de proteger não apenas os locais de desova, mas também as áreas de alimentação e os corredores migratórios utilizados por elas.
Fonte: Projeto Tamar